Por Mauro Negruni
Aprendi há bastante tempo, com um grande contador, que um centavo ou um milhão de diferença nos controles contábeis tem a mesma dimensão.
Isso para mim, jovem desenvolvedor de sistemas, soou estranho. Quando fiz um sistema de folha de pagamentos quase morri para fazer com que os lançamentos individualizados fossem equivalentes a soma dos lançamentos contábeis. As diferenças de centavos entre a soma e os totais era “insignificante”, porém desequilibrava os lançamentos (soma de débitos e créditos) e o efeito era que a contabilidade como um todo ficava “torta”. O contador ria, e ria muito dessa situação. Enquanto eu a cada novo teste ficava mais nervoso e impaciente com a situação. Hoje posso rir, mas naquele momento tinha vontade de desistir e passei a detestar contabilidade.
Como dizem os sábios, o tempo cura tudo. Passadas mais de duas décadas, estou num seleto grupo de pessoas que se especializou na área contábil-fiscal e participo ativamente nos grupos de empresas piloto do SPED. Ironia ou não, passei a entender e gostar de contabilidade. Apesar da minha formação na área de tecnologia de sistemas tornei-me admirador e conhecedor das práticas contábeis e especialmente as tributárias.
Quando vou para uma empresa para implantação de um projeto SPED, faço uma prática de sensibilização. Nesta rotina inicio por mostrar o que é o projeto SPED, onde ele começa e terminará (um dia), bem como a sua fase atual e os planos dos Fiscos e das entidades.
Sinto-me muito à vontade quando meus colegas de sistemas ficam enlouquecidos com meus exemplos de falta de conciliação entre os dados nos sistemas ou mesmo no ERP único. Sim, mesmo quando é usado apenas um sistema, podemos ter dados que examinados em minúcia mostram que notas fiscais, por exemplo, com mais de duas casas decimais não coincidem nos centavos com os lançamentos contábeis. Isso deixa qualquer um louco. Trabalhando com um analista de sistemas português, num projeto de uma grande empresa multinacional, ele ficava aos gritos dizendo que era uma loucura “fechar o estoque lançamento a lançamento contra a contabilidade!”. E completava, não faz sentido que se exija do sistema que estes números sejam “tão” coincidentes! Era engraçado.
Da vida profissional não posso queixar-me, aprendo todos os dias. E foi num cliente em Santa Catarina que aprendi uma boa definição para implantação de projeto SPED (isso aconteceu antes do SPED, na época do SINTEGRA). São três fases:
A – Primeiro vem a NEGAÇÃO, onde os partícipes não acreditam que as informações exigidas serão realmente conferidas na forma apresentada ou ainda não acreditam que os Fiscos terão “poder de fogo” para processar o que está pedindo;
B – Passados alguns momentos, isso depende de ambiente para ambiente, começa a fase da ACEITAÇÃO onde as pessoas tomam posturas menos resistentes e passam a ouvir os motivos das exigências e a lógica fiscal-contábil contida nos atos legais.
C – ao cabo da conformação, ou seja, quando as determinações foram aceitas inicia-se a fase mais produtiva, ou seja, a COLABORAÇÃO, quando então os profissionais percebem que apesar da “chateação” fiscal-contábil há oportunidades de melhorias nos processos e sistemas da Cia e portanto a melhoria do ambiente geral.
Todos nós, seres humanos, temos nossas características e obviamente é normal respeitá-las. Menciono estas fases como regra geral, ou seja, o pensamento mediano do que já vivi nestes anos todos de SPED (desde 2005). São validas também para outras tantas situações, especialmente em troca de sistemas e processos.
Fonte: Baguete.com.br